sexta-feira

Lábios Cinzas

Fecha logo essa porta.
Em nome das horas etéreas
onde o vento surpreendia ânsias
e arrastava sibilos e nudezas
antes de pular da janela.

Era possível virar as costas
de qualquer forma.
Eu já não era poesia;
existia editado e impresso
pra folhear na certeza
de um percurso numerado,
como um logos enjaulado.

Cada palavra como lança.
Cada sentença, sentenciando grilhões
a cortarem toda carne
(onde todos os códigos vacilam).

Agora há fantasmas pelo corpo,
perturbando o meu sono.
Há cinzas pelos dedos, pela roupa,
pelos sonhos.

Agora há pregos nas escadas
há paredes chamuscadas
lamentos que gotejam
num chão úmido e sulcado
pelas ondas do tempo.

Agora transpiro sombras
que assustam as mobílias
povoando cada ladrilho,
desde a primeira poeira
que pousou desconfiada.

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