sexta-feira

Chuva Negra

O atropelo das vozes
na calçada espumosa
descascou a tinta
das nossas retinas.

Foi assim que caiu
sobre pés desconcentrados
um céu nervoso e turvo,
uma cria faminta
com uma boca raivosa
de línguas elétricas,
babando e berrando.

E assim,
no cruzamento dos passos
não houve bicho requintado
que esperou gentilmente
os sinais abrirem.

E logo,
as vidas desabrigadas
reencontraram destinos
sentadas à mesa
no avanço da noite.

Quando a chuva cessou,
continuaram sentados
esticando lençóis
bordando em linhas verdes
novas notas excêntricas.

Nenhum comentário: