domingo

brevípede

ser inteiro
pra que as flores cresçam
onde a força da chuva
desejar
pra que a histérica ironia
do calendário grosseiro
desmanche sua força
na orla ensolarada
dos momentos

ser inteiro
no digerir meteórico
desse azeite tóxico
dessa tigela de pus

ver a criança que brinca
esfola os joelhos
quebra vidraças
que tem a língua solta
e puxa o rabo
dos estranhos predicados

ver a cidade correr
gemer no asfalto
numa ambulância só...
no antigo gozo uterino
dessas crônicas
renascer, querendo mamar

se há luz
observar atento
o caminhar das cores
se há sombra
descrever o escuro
a malha da blusa
a caixa de fósforos

que toda forma desnuda
é surda e é muda
e dorme indiferente
exausta e serena

que o breve morde, mas beija
que a fruta brota bruta
é febre que inflama e luta
cozinhando no sol
das estações quentes
e frias

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