segunda-feira

Café da manhã

a beleza triste
da bossa
a poeira de açúcar
no canto da mesa
e o café lustrado
pelo sol aceso
nessa hora preso
nos ombros do bairro
acidentado
a fumaça desse cigarro
o cheiro frio
o mantra rotineiro
da geladeira
o que sobrou
pousando no lado
do pão esquecido
amarelo e oco
ressequido

ali
um poema amassado
esperando uma brisa
derrubar os farelos
tocar os cabelos
do chão para o ralo
sacudir as páginas
que gritam ofertas
e preços e prazos
acordar a gota
que sai da torneira
troçar da retina
cansada da noite

um poema de orvalho
que pediu um colo
um calor de silêncio
prum canto brotar
mas pouco posso
dou-te o meu seio
cubro-te e te beijo
no leito te deito
vejo-te sereno
arfar nos meus braços
correr nos meus pulsos
evito falar e te escuto
no inverso e no entanto
eu durmo

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