quarta-feira

Palavra

Palavra é cão sem dono
que roça e acua
entre as lembranças.
Por vezes linha
tinta avulsa
fio, início e fim
de meadas.
É resina bruta
cera pastosa
perfuma e gruda
pelo gogó.
Vapor de ecos
suor de suspiros
saliva das ruas
ou suco de vida
represada...
O que doura e derrete
refresca e afoga
reúne e amarra.
Criança mimada
que irrita e encanta,
é visita íntima
e entra sem pedir.
Palavra,
criatura morta-viva
que desconsidera
o apagar das luzes.
Num convite
ou num assédio
descuido inocente
ou sincera traquinagem
sempre toma
o meu sono.

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