Era o vento me soprando folhas
folheando minhas sombras
trazendo o cheiro das matas
e o apito distante
da locomotiva
chuta a poeira
em meus olhos
e os contratos caem dos bolsos
bergamotas racham ao chão
e os cigarros queimam com fúria
e telhados uivam em coro
e pinheiros dobram em fila
e cabelos dançam em transe
pássaros homens e cães
as calçadas chiam baixinho
sinto o sopro varrendo meus pêlos
arrancando minhas raízes
despertando uma ânsia de partir
e ser o próprio vento
domingo
sexta-feira
Léxicos na avenida central
feriados de festim
carnaval de farmácias
teatro do sono
beijo supersônico
jornais higiênicos
escadas rolantes
refrões injetáveis
artistas do medo
pintores nas ruas
andaimes no céu:
mentiras canônicas.
carnaval de farmácias
teatro do sono
beijo supersônico
jornais higiênicos
escadas rolantes
refrões injetáveis
artistas do medo
pintores nas ruas
andaimes no céu:
mentiras canônicas.
Punk Pimba Pumba
eu canso, ataco
ensaio meu canto
eu xingo, eu minto
enxoto meus santos
abuso, abafo
afobo meu uso
eu leio, assisto
assusto meus olhos
remendos, reparos
adornam meus medos
ensaio meu canto
eu xingo, eu minto
enxoto meus santos
abuso, abafo
afobo meu uso
eu leio, assisto
assusto meus olhos
remendos, reparos
adornam meus medos
sábado
gols e goles
viver, trocar de vícios
acomodar as comportas
engaiolar e soltar cantos
perder e achar os verbos
pensar grave e subir
sumir da gravidade
e de lá escorregar
em franca vertigem
sofrer no dia
do futebol
protestar em desvios
arbitrários
comer o pão
que a cidade amassou
(e ai de quem não usa
sentir dessa fome)
enquanto isso a rua
o jornal, a medicina
e o meu coração
palpitam
acomodar as comportas
engaiolar e soltar cantos
perder e achar os verbos
pensar grave e subir
sumir da gravidade
e de lá escorregar
em franca vertigem
sofrer no dia
do futebol
protestar em desvios
arbitrários
comer o pão
que a cidade amassou
(e ai de quem não usa
sentir dessa fome)
enquanto isso a rua
o jornal, a medicina
e o meu coração
palpitam
domingo
operário amargo
muitas palavras
carcomidas, penduradas
em línguas aceboladas
ainda há, contudo
um arroz e feijão
nessa amarga panela
mas morcegos
roubam
tuas sementes
e teus sonhos
chupam todo
teu açúcar
a sopa de letrinhas
não cura
tua bebedeira
e a tua fibra
fibrila
sob o sol
carcomidas, penduradas
em línguas aceboladas
ainda há, contudo
um arroz e feijão
nessa amarga panela
mas morcegos
roubam
tuas sementes
e teus sonhos
chupam todo
teu açúcar
a sopa de letrinhas
não cura
tua bebedeira
e a tua fibra
fibrila
sob o sol
quarta-feira
Marchinha
mamãe eu quero
um riso anônimo
e anômalo
mamãe eu quero
a bossa
da quarta-feira
mamãe eu quero
a lírica
acinturada
mas também quero
vagar
pelos sinais
um riso anônimo
e anômalo
mamãe eu quero
a bossa
da quarta-feira
mamãe eu quero
a lírica
acinturada
mas também quero
vagar
pelos sinais
sexta-feira
O verão das cigarras
debruçada no vento
a tarde sopra
o sono do céu
trafega a infância
entre as figueiras
e cigarras
o mundo é um domingo
e as pipas oscilam
manhosas
o verão das verdades
viúvas e velhas
como vento
a tarde sopra
o sono do céu
trafega a infância
entre as figueiras
e cigarras
o mundo é um domingo
e as pipas oscilam
manhosas
o verão das verdades
viúvas e velhas
como vento
quinta-feira
Olhando pro mar
mesmo que o sol
amoleça meus dias
e que o vento seque
e lamba meu sal
e que as águas engulam
os heróis de areia
estarei em segredo
fiel, ao teu lado
olhando pro mar
amoleça meus dias
e que o vento seque
e lamba meu sal
e que as águas engulam
os heróis de areia
estarei em segredo
fiel, ao teu lado
olhando pro mar
terça-feira
corre-corre
corre a mãe indignada
com o choro
da criança
corre o homem de gravata
cuidando saias
e semáforos
corre a carroça velha
(cavalo e carroceiro:
dois suspiros franzinos)
corre a ambulância
pra alcançar a vida
sem fôlego
e o louco esfomeado
almoça sem digerir
a proteína das horas
sobram plátanos e pombos
pelas praças
hipertensas
sobram mendigos e cães
nas sobras de ar
condicionado
com o choro
da criança
corre o homem de gravata
cuidando saias
e semáforos
corre a carroça velha
(cavalo e carroceiro:
dois suspiros franzinos)
corre a ambulância
pra alcançar a vida
sem fôlego
e o louco esfomeado
almoça sem digerir
a proteína das horas
sobram plátanos e pombos
pelas praças
hipertensas
sobram mendigos e cães
nas sobras de ar
condicionado
Bebo por vocês
os poemas
são pomares
entre mapas
ou perfumes
range rimas
finca ritmos
nunca tendo
algoritmos
os poetas
bem podados
plantam palcos
tão poéticos!
brinco bobo
saboreio
babo e bebo
por vocês
são pomares
entre mapas
ou perfumes
range rimas
finca ritmos
nunca tendo
algoritmos
os poetas
bem podados
plantam palcos
tão poéticos!
brinco bobo
saboreio
babo e bebo
por vocês
quinta-feira
Quando ela bate na porta
quando ela bate na porta
eu saboreio um caso
de alegre-indigente
do tempo da gente
quando ela bate na porta
não há tempo pra ensaios
mas quero matar os meus ratos
e lavar minhas xícaras
quando ela bate na porta
enguiça minha mecânica
atiça uma angústia
acústica
quando ela bate na porta
eu não sei se é ela
eu não sei se é tarde
mas eu sempre amanheço
eu saboreio um caso
de alegre-indigente
do tempo da gente
quando ela bate na porta
não há tempo pra ensaios
mas quero matar os meus ratos
e lavar minhas xícaras
quando ela bate na porta
enguiça minha mecânica
atiça uma angústia
acústica
quando ela bate na porta
eu não sei se é ela
eu não sei se é tarde
mas eu sempre amanheço
quarta-feira
Vem a manhã
vem a manhã com seus canários
e suas latas de tinta
despertar entre o concreto
um cheiro de café e hortelã
vem a manhã de fúria e pressa
sacudir nossos lençóis
aquecer os cães que ladram
(sempre atrás dos portões)
vem a manhã com seus conselhos
costurar malhas elétricas
e mover nossas artérias
por impulsos binários
vem a manhã com suas promessas
cobrar algumas dívidas
e empilhar nas calçadas
suas caixas de presente
vem a manhã com seus motores
e sua cantiga pneumática
abrir nosso comércio
de sonhos e obrigações
vem a manhã maquilada
(novo e maquinal aniversário)
e há mais velas derretendo aço
(ladras do cansaço de amanhã)
e suas latas de tinta
despertar entre o concreto
um cheiro de café e hortelã
vem a manhã de fúria e pressa
sacudir nossos lençóis
aquecer os cães que ladram
(sempre atrás dos portões)
vem a manhã com seus conselhos
costurar malhas elétricas
e mover nossas artérias
por impulsos binários
vem a manhã com suas promessas
cobrar algumas dívidas
e empilhar nas calçadas
suas caixas de presente
vem a manhã com seus motores
e sua cantiga pneumática
abrir nosso comércio
de sonhos e obrigações
vem a manhã maquilada
(novo e maquinal aniversário)
e há mais velas derretendo aço
(ladras do cansaço de amanhã)
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