sexta-feira

O verão das cigarras

debruçada no vento
a tarde sopra
o sono do céu

trafega a infância
entre as figueiras
e cigarras

o mundo é um domingo
e as pipas oscilam
manhosas

o verão das verdades
viúvas e velhas
como vento

quinta-feira

Olhando pro mar

mesmo que o sol
amoleça meus dias
e que o vento seque
e lamba meu sal
e que as águas engulam
os heróis de areia
estarei em segredo
fiel, ao teu lado
olhando pro mar

terça-feira

corre-corre

corre a mãe indignada
com o choro
da criança

corre o homem de gravata
cuidando saias
e semáforos

corre a carroça velha
(cavalo e carroceiro:
dois suspiros franzinos)

corre a ambulância
pra alcançar a vida
sem fôlego

e o louco esfomeado
almoça sem digerir
a proteína das horas

sobram plátanos e pombos
pelas praças
hipertensas

sobram mendigos e cães
nas sobras de ar
condicionado

Bebo por vocês

os poemas
são pomares
entre mapas
ou perfumes

range rimas
finca ritmos
nunca tendo
algoritmos

os poetas
bem podados
plantam palcos
tão poéticos!

brinco bobo
saboreio
babo e bebo
por vocês