domingo

Chuvinha de fim de tarde

chuvinha de fim de tarde
realça qualquer encanto
sopra um beijo úmido
nos poros abertos da cidade

as gotas vagueiam tranquilas
condensam os trajes urbanos
descortinando as formas e cores
de todas as folhas, bustos e flores

enquanto o céu murmura
pés quentes e lascivos
brincam na lama macia
melando os dedos e unhas

(e por saltitar distraída
fica o respingo das poças
nas pernas brancas
da menina)

o vapor fresco das ervas
vai ungindo pulmões fatigados
engolindo os corpos febris
de fim de tarde...

quinta-feira

Acordeon

toca acordes acordeon
acorda as cordas do corpo
açoita as traças as travas e as trancas
dos vagos traçados de vida
descoberta desencarde desencrava as dores
azula acende alisa as desilusões
apresenta presume prelúdios da paixão
os queixumes os choros os corais das crenças
alegra grita, traga gracejos e gargalhadas
goza agridoce em larga graça
gorgoleja agrava vaga
chama-me em chamamés
melindroso nas densas líricas milongas
melancólico colérico calamitoso calmoso
afaga afugenta trafega em teus foles
a fala morna ou fria, forte ou faminta
as flamas ou mofos das almas