quarta-feira

Consciência

Essa agulha fere
quando tece elogios
o meu texto prefere
uma trama sem fios.

Se a estrofe é rubra
teu verbo ignora
me pede que cubra
o que te apavora.

Ah, se eu soubesse
que isso cansava!
Ah, se eu pudesse
não te conservava!

Já vivo embrenhado
num assédio tétrico,
num brinquedo métrico
me sinto vingado.

terça-feira

Férias no campo

A casa velha
ainda vive
no fim do morro.

Naqueles anos,
a mistura de gritos...
o fogo ardia
água fervia
tudo cozia
a velha ria
da gritaria
a casaria
se chacoalhava
e fumegava
pelos canos.

A velharia se esconde
no escuro.
Cada madeira
que cobriu vida
recende a morte.

A casa é cinza
e entortada.
Ainda vive
abandonada
no fim do morro.
Ainda assiste
o fim dos dias.
Logo as raízes
irão cobrir
sua lembrança.

segunda-feira

Outono

O verão passou
e o vento secou
nossa maresia.
A folha manchou
e a rua se encheu
de melancolia;
mas quem vai negar
a rua faz suspirar
e sangrar
poesia.